Imagine que você está viajando de férias em uma estrada de carro sozinho ou sozinha.
Você está bem apressado(a) em chegar ao hotel bacana que reservou. Afinal toda a família o(a) espera para curtir as férias tão desejadas após longas jornadas de trabalho.
A maior parte do trajeto você pensa no que vai fazer durante os próximos dias. Mas também começa a se lembrar do trabalho.
De repente, uma enxurrada de pensamentos do tipo “e se” invadem sua cabeça:
“E se eu não deixei tudo em ordem?”
“E se o chefe ligar cobrando algo?”
“E se eu ficar sempre sobrecarregado, assim como fiquei após a demissão do Jorge?”
E se, etc..
“Espera aí..”
“E se eu for demitido também?”
“Como ficaria minha vida?”
De repente você freia bruscamente.. quase atropelou um animal na pista.
Ufa!
Que sorte!
Você muda a marcha e vai com mais calma.
Vai mais devagar…
Você volta à realidade…
Retorna para o aqui-agora.
Você fez um curso de atenção plena e se lembrou que estava no piloto automático.
Você estava perdido(a) em pensamentos com relação ao passado e ao futuro, e se deu conta de que estava atuando no Modo Fazer.
Neste modo da mente operar, você está sujeito a funcionar da seguinte forma: piloto automático, multitarefa e aumentar a tagarelice mental (ficar preso(a) em pensamentos). Assim, você tende a se relacionar com pessoas, objetos, eventos baseado nestas premissas.
Mas em que situações e vivências da sua rotina você age tendo como base o Modo Fazer?
● Perder-se em pensamentos como se estes fossem reais;
● Querer encontrar soluções racionalizando as preocupações ;
● Julgar constantemente as experiências de vida como boas ou más;
● Querer impor a todo o custo o seu ponto de vista em uma conversa;
● Evitar o que não gosta tentando controlar as coisas para serem do seu jeito;
● Ficar nervoso(a) toda vez que alguém discordar de você;
● Analisar incessantemente um problema e ficar frustrado(a) por não encontrar uma solução.
Esses são indícios fortes de que sua mente está operando no Modo Fazer.
A hiperativação do Modo Fazer na vida deixa você sempre em estado de alerta. Neste modo de funcionar, o cérebro entende que você está em perigo ou em uma ameaça iminente e prepara o corpo para lutar ou fugir.
Acontece que, em excesso, o perigo imaginário se transforma em preocupação constante (a ansiedade) e faz você sentir:
● Tensão nos músculos do corpo;
● Suores frios em mãos e pés;
● Coração acelerado como se fosse sair pela boca;
● Angústia no peito;
● Além de tonturas, dor de barriga e outras queixas.
Para resumir, as preocupações fazem com que nossas ações e comportamentos sejam impulsivos, ou seja, baseados no Modo Fazer.
No exemplo acima, se continuasse a pensar demais, muito provavelmente você daria meia volta e interromperia as férias para tentar “recuperar seu emprego”.
Como domar o Modo Fazer?
Exageros à parte, como podemos desativar esse modo mental, já que, em excesso, ele causa tantos prejuízos à nossa saúde física e mental?
A atenção plena ou mindfulness é um método que aponta uma solução. Ela diz que você precisa aprender a mudar de marcha.
Isso quer dizer sair do piloto automático e fazer as coisas com mais consciência.
Isso significa atuar no mundo orientado por outro modelo mental: o Modo Ser ou Modo Consciente.
O Modo Ser é o aspecto intuitivo, observador e subjetivo da mente. Este modo mental pode ser cultivado dia após dia através da contemplação, da meditação e de pausas conscientes ao longo do dia.
Essas estratégias, se exercitadas rotineiramente, rompem a cadeia de ações inconscientes e danosas à saúde que você faz na rotina. Isso acontece toda vez que você reage de forma impulsiva e automática às situações estressantes.
Por exemplo, fazer pausas conscientes faz você vivenciar o momento presente e, no momento presente, não há ameaças, não há pensamentos de preocupação relacionados ao passado ou ao futuro. Na pausa consciente, você habilita o Modo Ser.
Quando o cérebro aprende a trabalhar nesse modo, você tem calma, relaxamento e foco em seus dias.
Isso acontece porque ao ativar o Modo Ser você:
● Aprende a fazer as pausas para relaxar durante o dia;
● Faz escolhas mais conscientes;
● Aproxima-se dos desconfortos da vida para entender melhor como elas
surgem;
● Acessa com destreza o momento presente que tem relação com o sistema
de calma.
Na atenção plena, você desacelera o Modo Fazer e dá mais força e voz ao Modo Ser. Desta forma, os dois modos mentais entram em sintonia, e essa configuração cerebral traz saúde e bem-estar às nossas vidas.
Retomando a viagem…
A freada brusca para evitar o atropelamento fez você trocar de marcha. Você trocou para marcha lenta. Da marcha acelerada e estressada para a marcha calma e consciente. Você trocou a marcha do Modo Fazer para o Modo Ser.
Em harmonia, você se sintonizou no modo FAZENDO-SENDO. Então, neste exato momento, a viagem começou a ser saboreada..
Você apreciou a paisagem no entorno e ficou encantado com as árvores frondosas e altas por todo o trajeto.
Punha de vez em quando a cabeça para fora do carro a fim de sentir a brisa fresca e relaxante no rosto.
Percebeu o aroma da mata e o cheiro da terra úmida.
Fez o caminho tirando o máximo proveito das experiências que a paisagem
proporcionou , sem descartar, contudo, a “ansiedade” gostosa de rever a família e amigos.
E o trabalho? Bom, fica para depois das férias!